quinta-feira, 28 de julho de 2016

amizade para toda a vida

O tema amizade é muito falado mas pouco refletido quando se esta no ambiente de trabalho.
Pessoas inescrupulosas que não tem o mínimo de coerência moral acham que o fato de se estar no ambiente de trabalho são "amigas" de todos os que a cercam... Que ingenuidade.
Infelizmente campo de guerra tem se tornado muitos locais de trabalho onde não há esforço administrativo para criar um ambiente satisfatório. Brasil de coronéis, empresas de chefes...
carência de líderes!

debatedores virtuais

http://profgaspardesouza.blogspot.com.br/2016/07/ateistas-estao-fugindo-de-william-lane.html

existem os que são gigantes atrás da tela mas são igualmente ignorantes  frente a frente. Que triste constatação.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Nota de pesar - Ricardo Barbosa


Estamos todos tristes. A notícia do falecimento de D. Robinson e Miriam nos trouxe muita dor e saudade. D. Robinson foi um servo de Deus que soube, como poucos, integrar a vida pública com a fé, o ministério pastoral com o magistério acadêmico, a erudição com a devoção. Integrava as diferentes ciências que ele dominava como poucos, com a teologia e a fé. Hábil escritor. Suas eram palestras bem humoradas, provocativas e relevantes.  Miriam, companheira discreta, com fé comprometida e, como seu marido, integrada com a vida e suas demandas.
Sinto saudades. Muita saudade. A Igreja Evangélica Brasileira perde um profeta. A Ultimato perde seu mais antigo e fiel articulista. A Diocese Anglicana de Recife perde seu pastor. O Brasil perde um cidadão ilustre. Nós perdemos um grande amigo.
Sabemos que o Senhor da Igreja seguirá conduzindo seu povo através de seus pastores, mas a perda do pastor Robinson e sua esposa nos deixará órfãos de um testemunho corajoso, fiel e íntegro. Que o Senhor da Igreja tenha misericórdia de todos nós.
Ricardo Barbosa de Sousa
Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto

A fé de Robinson Cavalcanti


Vinte e um de abril de 1960 – inauguração de Brasília como Capital Federal. Os alunos internos do Colégio Evangélico (presbiteriano) 15 de Novembro (em Garanhuns, PE) foram liberados naquele feriado. Em breve eu completaria 16 anos. Sento-me na cama, no quarto 3, e medito, reconhecendo meu estado de pecaminosidade, a perdição eterna, a salvação oferecida pela soberania e pela graça de Deus na morte de Cristo na cruz e a necessidade de arrependimento, entrega de vida e confissão dele como Senhor e Salvador, pela fé concedida pelo Espírito Santo. Ajoelho-me ao lado da cama e, não resistindo à graça, faço uma oração em decisão culminante da conversão. Deixo de ser um religioso para me tornar um cristão. Paz profunda. Certeza de salvação. Deixo o prédio do colégio e vou para o parque Ruben van der Linden (o “Pau Pombo”) ler um jornal e contemplar a natureza.
Começava uma nova vida, resultado de uma peregrinação. Nascera em um lar religiosamente misto: um pai médium kardecista e uma mãe católico-romana. Estudara o catecismo do padre Álvaro Negromonte, fizera primeira comunhão na Paróquia de Santa Maria Madalena, em União dos Palmares, AL, com a figura austera e erudita do monsenhor Clóvis Duarte de Barros, e fora crismado pelo arcebispo de Maceió Dom Ranulfo Farias, auxiliado pelo coadjutor Dom Aldemo Machado. Um primo da minha mãe, Teófanes Augusto de Araújo Barros, era cônego da Catedral, e outro primo, Gerilo, era aluno do Seminário Maior.
Minha vida de criança e adolescente se centrava na igreja: missas, novenas, procissões. Influência maior vinha de minha avó materna, Veríssima (Lissú). Aos 13 anos fui autorizado a assistir à primeira sessão espírita, tendo meu pai como médium e minha avó como espírito baixante (muito “familiar”). Comecei a ler a literatura espírita e a ocasionalmente frequentar sessões pelos cinco anos seguintes. Aos 14 anos, três impactos: a) a leitura de uma biografia de Maquiavel como embaixador no Vaticano abala minha visão do papado e da própria Igreja Romana; b) a leitura de uma biografia de Lutero escrita por um historiador reformado francês me faz descobrir um novo herói da fé; c) um marceneiro adventista, Josué Clementino, me faz abrir uma Bíblia (edição católica) em Êxodo 20 e me desafia a fazer um curso bíblico por correspondência (escondido dos meus pais). Um colega de classe, José Amorim Feitosa, me leva a conversar pela primeira vez com um pastor evangélico, o batista Gamaliel Perruci, sobre graça e lei. Continuava assíduo à igreja, comungando diariamente durante as férias e tendo proveitosas conversas com o meu pároco, lendo da sua biblioteca. Terminara o ensino fundamental (curso ginasial) e optara pelo então curso clássico para o segundo grau. A providência divina me conduziu ao colégio presbiteriano, com cultos diários, aulas de Bíblia e a convivência com os “candidatos ao ministério”.
Passo a frequentar a Igreja Presbiteriana Central (rev. Henrique Guedes), estudando na escola bíblica dominical sobre as viagens de Paulo e tendo como professor o advogado Urbano Vitalino (o avô). Prega na igreja e no colégio o rev. Antonio Elias, de Niterói, RJ, um evangelista reformado de “coração aquecido”. Foi o último “empurrão do céu” para a minha decisão. Naquele dia, disse: “Vou ser um crente na Igreja Católica”. No ano seguinte (1961) estou no Recife, estudando com os jesuítas no Colégio Nóbrega: missa nas sextas, praia aos sábados, cinema aos domingos e… sessão espírita nas quartas. Vou a uma igreja presbiteriana “burguesa” e não me sinto bem com uma mocidade fútil. Fastio da alma. O marceneiro alagoano me envia um diácono e o presidente da mocidade da Igreja Adventista: conversa, orações, lição da escola sabatina, cultos. Grande ajuda espiritual, mas lhes falo que tenho discordâncias e que não me filiaria àquela denominação, à qual sou sempre grato.
Termino o segundo ano do curso clássico e vou de férias para a casa dos meus pais. Intenso período de reflexão, que me leva a três decisões importantes: a) diante da incompatibilidade entre os ensinos da Bíblia e os de Kardec, deixaria de frequentar, para sempre, sessões espíritas; b) diante da minha descrença na maioria dos seus dogmas caracterizadores, deixaria a Igreja Romana; c) como não deveria viver a fé isoladamente, me filiaria a uma igreja evangélica, de preferência histórica, litúrgica e não-legalista. No Recife daquela época (1962), a Igreja Anglicana só tinha cultos em inglês e uma Igreja Luterana (IECLB), em alemão. Perto da casa dos meus avós paternos (Manoel e Josefa, “mãezinha”) ficava a Igreja Luterana do Brasil (IELB), com cultos em alemão e em português. Congrego-me e estudo com avidez. Dia 31 de outubro de 1963, Dia da Reforma (19 anos, aluno de ciências sociais na Universidade Católica e de direito na Universidade Federal), pelo rito da confirmação, professei publicamente a minha fé e me tornei um protestante de carteirinha.
Desligo-me da Igreja Romana em plena efervescência do Concílio Vaticano II, cujos documentos finais eu acompanhei e estudei. Passo doze anos na condição de aluno e, depois, professor na Universidade Católica de Pernambuco (dos jesuítas), exposto às encíclicas sociais pontifícias e à filosofia solidarista de Gabriel Marcel, Jacques Maritain e Emmanuel Mounier. Rompo com a eclesiologia e a soteriologia romanas, mas retenho muito da sua doutrina social. Ao término dos cursos de ciências sociais e direito, entro em um dilema existencial: advocacia, carreira diplomática, pós-graduação no exterior, ordenação ao pastoreio de uma igreja luterana, casamento?
Convidado por Paul Little para assistir à Conferência Missionária de Urbana (1967), ouço John Stott expor a Segunda Carta a Timóteo e sinto um chamado para o ministério, mas não sei qual. De volta ao Brasil, recebo um convite para ser assessor (obreiro) da Aliança Bíblica Universitária (ABU), que foi um marco na minha vida quando eu, ainda estudante, havia sido discipulado pelo missionário batista inglês Dionísio Pape. Um mês depois, sou convidado para lecionar na Universidade Católica. É a resposta de Deus: profissão e ministério na academia.
Estou com 23 anos. Permaneço mais de dez anos como missionário da ABU, cobrindo, inicialmente, uma área que vai de Manaus a Salvador. Em 1969, aos 25 anos, me caso com Miriam (já são 41 anos de casados). As portas do magistério se escancaram. Recebo propostas do colégio Presbiteriano Agnes, Americano Batista, Eucarístico (católico), da Faculdade Frassinetti do Recife e do Seminário Presbiteriano do Norte. Aprovado nos concursos para professor de ciência política nas Universidades Rural e Federal de Pernambuco, fecho o escritório de advocacia, para tristeza do meu pai, e suspendo a ordenação pastoral (permanecendo como evangelista).
Aos 26 anos, por sugestão de Neuza Itioka e a convite de Ricardo Sturz (pai), participo do processo de fundação da Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL) como “caçula”. Em 1970, compartilho da histórica 1ª Consulta de Cochabamba, onde integro a comissão executiva por sete anos. Além disso, participo dos CLADEs 2 e 3 — o primeiro, em Huampani, no Peru (fiz parte da comissão diretora), e o segundo, em Quito, no Equador.
Por dez anos escrevo na coluna evangélica dominical do Jornal do Commercio, de Recife. O apoio de Richard Sturtz à minha publicação de “Cristo na Universidade Brasileira?” torna-me um escritor (1972).
Aos 30 anos (1974), estou no Rio de Janeiro cursando mestrado em ciência política na Cândido Mendes (IUPERJ) e servindo na ABU — Região Leste. Sou convidado para participar do Congresso de Lausanne, onde tenho a liberdade de falar e integrar a Comissão de Convocação. Em seguida, sou eleito membro-suplente de Faninni e Gesiel Gomes na Comissão de Continuação, depois Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial (LCWE), por quatro anos. Com a constante falta de titulares, compareço a todas as reuniões e participo da maioria das consultas da fase fecunda (1974–1982) — responsabilidade social; evangelho e cultura; estilo de vida simples — e do Congresso de Pattaya, na Tailândia. No Congresso Missionário (Curitiba, 1976) publico o livro “Uma Bênção Chamada Sexo”. Sou o primeiro autor evangélico a se aventurar (a levar pedradas) pelo tema. Em seguida, publico “O Cristão, Esse Chato!”
De volta a Recife, passo a ocupar cargos na administração universitária, como coordenador, chefe de departamento, diretor de centro, membro dos conselhos superiores. Sirvo como obreiro na ABU e como membro dos Gideões Internacionais. Sou convidado para integrar a Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial (WEF), subcomissão Ética e Sociedade, por quatro anos. Em 1978, por sugestão de amados irmãos, encerro minha abençoada década de obreiro da ABU. Ajudo a criar um movimento evangélico de conscientização política (MCDC) e preparo o livro Cristianismo e Política.
A convite do pastor presbiteriano João Campos de Oliveira, coopero por três anos em um programa de televisão. O fato de ter militantes políticos na família — meu pai foi vereador e presidente de sindicato empresarial — e de ter participado da política estudantil, sindical e partidária leva-me à candidatura a deputado estadual (com a Lei Falcão e o voto vinculado) como evangélico não-marxista contra a ditadura militar — saio do gabinete e vou à escola das ruas, com os riscos da ocasião. Por doze anos sou abençoado como membro da Igreja Luterana (IELB), à qual devo minha formação no pensamento da Reforma e minhas convicções doutrinárias ortodoxas. Questões periféricas pontuais (germanismo cultural, ceia restrita, regeneração batismal, governo não-episcopal), depois de um período de discernimento, me levaram à desvinculação da IELB e a uma transição ao anglicanismo (1976). Aos 32 anos, já sou influenciado por Jonh Stott, C. S. Lewis, J. I. Packer e Michael Greene (missões aos nacionais no Nordeste). Continuo a viajar (1978–1997), pelo país e exterior, a convite de várias denominações e instituições.
Sou grato a Deus por me ter permitido três vidas em uma: a profissional, a política e a ministerial. A troca da advocacia pelo magistério universitário melhor viabilizou a compatibilização entre profissão e ministério. Como profissional das áreas de pesquisa e ensino, sempre me vi dando o melhor de mim, com ética, e ao mesmo tempo sendo um missionário ao mundo universitário. Nas Universidades Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco, ocupei a maioria dos cargos e funções, inclusive nos conselhos superiores. Coordenei o mestrado em ciência política e dirigi o Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. Aposentado, trabalhei como voluntário cinco anos e, ao completar quarenta anos que ali entrara como calouro, fechei o escritório com um sentimento de realização pessoal e dever cumprido. Muitas vezes participei, como dublê de professor/pastor, de efemérides religiosas no campus. Essa missão para o mundo me levou a integrar a Academia Pernambucana de Educação e Cultura, o Rotary Club e a Academia Pernambucana de Ciências Morais e Políticas.
Na vida política, o fato de ter parentes paternos e maternos militantes de várias frentes, levou-me a participar da primeira greve aos 12 anos. Fiz parte do grêmio do colégio. Participei de uma diretoria da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA), do Centro dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (CESP), do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da UFPE, de diretórios e executivas (nos âmbitos municipal e estadual) de partidos. Abracei uma candidatura profético-pedagógica a deputado estadual (na época da ditadura militar), outra candidatura a vice-prefeito, uma assessoria a prefeito e a deputado federal. Participei ainda da fundação de um sindicato e, por fim, de movimentos sociais — inclusive fui um dos fundadores do Movimento Evangélico Progressista (MEP). Cumpri meu dever ao integrar a coordenação nacional das campanhas (1989, 1994) de Luiz Inácio Lula da Silva entre os evangélicos. Partidos e organizações foram canais históricos do exercício da cidadania responsável. Saí do PMDB quando esgotou seu projeto, com a promulgação da Constituição de 1988, e do PT com minha eleição ao episcopado (além da sua descaracterização). Não sou filiado a partidos, mas a sindicatos e associações civis. Parafraseando Nelson Rodrigues, tenho sido um “pastor de passeata”.
Na vida religiosa, tive formação cristã e fui vocacionado desde a infância. Converti-me na adolescência, e seguiram-se filiação e púlpito. Tinha visão missionária desde quando era estudante universitário. Na igreja exerci das mais humildes tarefas às maiores responsabilidades — foi parte do meu processo de aprendizagem. O privilégio de ser ministrado por heróis da fé, a literatura a que fui exposto, a honra de ser agraciado pela Providência com a presença nos principais congressos nacionais e internacionais da minha geração fazem-me confessar a graça e a misericórdia de Deus. Desde a Igreja Romana, tenho sido um “cristão credal”, afirmando cada artigo dos Credos Apostólico e Niceno. Desde a Igreja Luterana, tenho sido um cristão confessional: afirmando cada ponto convergente das confissões de fé da Reforma. Um ortodoxo que procura ser ortoprático. No protestantismo, sempre me vi como um evangélico (evangelical) — anunciando a expiação na cruz, o novo nascimento, a santidade e o imperativo missionário. Posicionamentos político-ideológico-partidários e o uso de ferramentas da filosofia e das ciências humanas para melhor compreender e obedecer às Sagradas Escrituras me levaram, muitas vezes, a ser tido como “liberal” por conservadores e como “fundamentalista” por liberais.
Há 34 anos sou membro da Igreja Anglicana — 26 anos como ministro ordenado (diácono, presbítero = pastor) e aproximadamente 13 anos como bispo. No anglicanismo fiz uma síntese pessoal entre um catolicismo sem romanismo e um protestantismo sem sectarismo/legalismo. Ordenei quase cem pastores. Abri um grande número de frentes missionárias e congregações – tenho recebido uma média de quinhentos novos membros a cada ano. Mantemos obras sociais e uma mensagem integral do evangelho. Porém é também aí que tenho, nos últimos anos, vivenciado os momentos mais tristes da minha vida. Por um lado, sofri a tragédia de cismas motivados por projetos pessoais e, por outro, o confronto com heresias, que me fez perder amizades pessoais – algo que nunca tinha vivenciado no espaço secular. O anglicanismo, amplamente ortodoxo em seus 165 países, tem passado por uma crise dolorosa devido ao fato de suas províncias do espaço euro-ocidental (como acontece com outros ramos históricos) e alguns satélites na periferia terem sucumbido ao sopro iluminista-racionalista do “espírito do século”. Tal crise deve-se ainda à adoção de um relativismo e de uma “inclusividade ilimitada” (sem doutrinas e padrões de comportamento), representados pelo liberalismo revisionista pós-moderno, que tem como uma das decorrências o advogar a agenda GLSTB (homossexual). Fui difamado e processado, e sofri um nunca imaginado martírio no interior da própria igreja. Continuo, porém, ainda vivo, ministrando, assistido por meu Senhor!
Nota
Artigo publicado originalmente em três partes em março, maio e julho de 2010 na revista Ultimato.

Ariovaldo Ramos - Luto por Robinson e Miriam


LUTO! A Igreja de Cristo, que está no Brasil, perdeu um de seus maiores profetas: Robinson Cavalcanti, bispo anglicano, um dos maiores propagadores da Teologia da Missão Integral, um dos pioneiros na conscientização sobre a ação pública da Igreja de Cristo. 

Todos, principalmente, os que militamos por uma Igreja relevante para a sociedade, temos uma dívida para com Robinson Cavalcanti, e lamentamos profundamente a perda dele e de sua esposa Miriam, também, vítima da violência que ceifou a vida desse representante maior do Evangelho de Cristo, na América Latina.

Poucas vezes a dor de uma perda foi tão lancinante. Essa é a hora do Cristo, que, no curso de uma morte violenta, em meio ao fel da brutalidade humana, soube proferir as palavras, que, até hoje, curam-nos de nossos próprios males: "Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem!"

Que o Espírito Santo, que, no transcurso de milênios, sempre esteve com seus filhos, enquanto experimentavam da mesma injustiça que vitimou o Cristo, Jesus de Nazaré, salvador da humanidade, assista à família enlutada e a toda a Igreja que chora a morte de um de seus pastores, com o consolo e a paz que excedem a todo o entendimento.

Ariovaldo Ramos 

VIOLÊNCIA INESPERADA EM MEIO À DOCE EXISTÊNCIA HUMANA - Carlos Queiroz


Aos meus amigos e amigas,

Fiz um malabarismo na agenda, pensando em elaborar minha despedida de Robinson e Miriam. Chegando no Recife, hoje(29/02/2012) muito cedo, fui Invadido por vários sentimento: saudade, dúvidas, indignação, misericórdia, esperança, desafio. Chorei outra vez. Estou marcado por uma dor aguda, como não experimentada antes. Talvez, um conjunto de muitas variáveis – a preciosidade dos que se foram? os cabelos brancos e um coração mais sensível? Minhas transições existencial ? Estou bem – tudo indica – aparentemente, sendo humanizado pela graça de Deus.

De qualquer forma desejei compartilhar com os meus amigos e amigas as minhas lágrimas visitada pela saudade e perplexidade diante das mãos invisíveis da maldade. O texto que segue é uma tentativa de sistematização para minha terapia e elaboração desse meu momento. E, como estou socializando com amigos e amigas, sinto-me na liberdade de expressá-lo livremente.

Que o Espírito Santo nos console, o Jesus Cristo de Nazaré nos inspire e o Deus da vida nos vitalize de amor por todas as mulheres, crianças, adolescentes, jovens e homens de todo o mundo.

VIOLÊNCIA INESPERADA EM MEIO À DOCE EXISTÊNCIA HUMANA

Meu primeiro contato com o Robinson foi na rodoviária de Fortaleza-CE. Ainda jovem, boa saúde; por opção, Robinson viajava de semi-leito. Ele era obreiro da Aliança Bíblica Universitária (ABU) e ficaria hospedado na casa de meus pais. Além de fazer seu trabalho de discipulado de estudantes universitários,  de quebra, pregaria na pequena Igreja de Cristo do antigo bairro  "Campo do Pio". Era um bairro de periferia. O velho Pr. João Queiroz tinha dessas - gostava de dar oportunidade à juventude. Robinson já houvera pregado em nossa igreja nos meados da Década de 60, mas não tenho a menor lembrança deste momento.
Não há como esquecer o Robinson, magricelo, bem arrumado, óculos de armação preta, duas valisas nas mãos - uma para suas roupas, a outra para carregar os livros. Não se tratavam de qualquer livro. Mesmo que Robinson fizesse da venda dos livros um tipo de suporte para os gastos com o seu ministério, cada livro era meticulosamente selecionado, a fim de propiciar a formação de uma geração de estudantes evangélicos, vivendo o suposto dilema entre a fé e a ciência. Tentei ser hospitaleiro e solícito na recepção. Procurei pegar uma das valisas, curiosamente a mais pesada. Sempre repleto de humor inteligente Robinson interpelou - "você é muito pequeno, deixa essa comigo". A valisa das roupas realmente era bastante leve. Naquela idade todos os acessórios são mínimos - qualquer pequena valisa suporta tudo o que pomos na bagagem da vida. Quando vamos na grande viagem, nem valisa levamos. Conosco vai somente o nosso ser mais sublime . É dele que eu tenho saudades. Saudade do abraço acolhedor, do olhar firme e taciturno, quando indignado com a gente. Tenho saudades do Robinson "brigão", e comigo, quando precisou exortar - chamava de "meu irmãozinho". Vou sentir falta de sua sabedoria. Foi o Robinson quem primeiro corrigiu meu texto para o Congresso Nordestino de Evangelização - 1988. Nas palestras básicas, ele estava na abertura do Congresso, eu no encerramento. Robinson, pincelou até discretas cacofonias de minhas prosas e versos. Em nossas discordâncias, eu assumia apenas o papel de perguntar insinuando a minha forma dissonante sobre algum tema. A relação catedrático - discípulo, talvez tenha gerado em mim essa atitude, que foi se fortalecendo ainda mais com a investidura do episcopado.

Há poucos dias estivemos em Fortaleza-Ce, fazendo uma "dobradinha" sobre Teologia da Missão Integral, num curso de Pós-graduação da Faculdade Unida & Igreja de Cristo. Bebemos cajuína, comemos tilápia assada na brasa com baião de dois. Ironicamente, a sobremesa foi rapadura, tão tenaz quanto todas as tragédias da vida em meio ao doce da existência humana.

Ai! Ai ! Que saudades, da querida Miriam, minha colega de trabalho na Visão Mundial, na Década de 80.  Um doce em pessoa, um poço de ternura. Vivia uma transpiração permanente da graça e bondade de Deus. Tinha um útero fértil no cérebro. Acolheu Dudu como se tivesse vindo de outras entranhas para além de úteros naturais. Exerceu sua vocação visitando comunidades pobres e tendo os pobres como visitas nobres em sua sala e cozinha. A mesa sempre singela transmitia a elaboração de uma arquitetura mental que fazia dos utensílios da cozinha, pamonhas e tapiocas uma expressão de amor acolhedor. Vi casados na mesma mesa, sabedoria e a candura. Numa dessas raras oportunidades a Dinha e eu fomos à casa de Miriam e Robinson, eu morava no Recife-PE, estavam à mesa três amiguinhos: Dudu, Carlos Filho e Kelvinha.

Há muito tempo não vejo "Dudu" - o menino que ficou guardado em minha memória. O Eduardo, ser humano que foi se compondo e de-compondo, conheci por informações raríssimas do meu amigo Robinson. As mãos que praticaram tamanha tragédia, mesmo que sendo as mesmas possuídas por Eduardo, nem mesmo Robinson e Miriam imaginaram existir. Essas mãos invisiveis da violencia, dos negócios escusos, do trafico de entorpecentes  tem gerado tragédias sem fim. Essas mãos possuem braços controladores que não respeitam os úteros mais sublimes, os cérebos inusitados. As salas e cozinhas mais afáveis. Os utensílios de mesa reduzidos a instrumentos de morte.

Essas mãos invisíveis e perversas me espantam e provocam a minha indignação. Não há como nesse momento dissociá-las das mãos do cidadão Eduardo.
Todavia, estou fazendo um exercício de coração para guardar na memória a figura do "Dudu", amigo da Kelvinha e Carlos Filho, na Década de 80.
Minhas lágrimas e dores são muito estranhas nesse momento. De todas as mortes, que tiraram pedaços de mim - essas "3 mortes" - tiraram pérolas, uma delas ainda confusa em minha memória.

Robinson e Miriam se foram e deixaram esse sabor intenso da saudade e missão precocimente cumprida.
O menino "Dudu" continua morrendo, como muitos outros, engalfinhados por esse mundo cruel e violento, capaz de catalisar processos malignos e ações perversas de morte.

Essas mãos invisíveis, mas tão reais, tem vitimado muitos meninos e meninas, famílias inteiras - dessa vez - atingiu gente que sempre morou na cozinha de nossa alma.

EXÉQUIAS DO BISPO ROBINSON (João 13:1-7)


Baixar

EXÉQUIAS DO BISPO ROBINSON
(João 13:1-7)
Depois de ter servido por quase 30 anos ininterruptos no Corpo de Bombeiros do Estado de Pernambuco, saí de lá com o que me parecia duas certezas inabaláveis. A primeira foi de que já havia visto todo tipo de horror que poderia ser produzido pelo ser humano em seu estado de miséria longe de Deus; a segunda foi de que nada mais abalaria minha sensibilidade. Aqueles anos todos de serviço ativo haviam criado no meu coração uma espécie de carapaça, de couro grosso, impossível de ser rompido por maior que fosse o impacto emocional vivido daí em diante.
Mas na noite deste último domingo descobri meio desesperado que nem uma coisa nem outra: eu acabara de ver um horror mais horrível do que todos os dos meus tempos da ativa e fui dominado por uma comoção tão forte que produziu um peso doído no meu coração como nunca antes havia sentido e que teimou em lá permanecer por dias me trazendo um sofrimento absolutamente desconhecido e prostrante. A minha reabilitação só aconteceu depois que, em lágrimas, supliquei ao Espírito Santo que me libertasse dessa opressão para que eu pudesse ao menos dormir. E confesso que essa graça me foi dada na mesma noite em que, em vigília junto com as ovelhas que o Senhor me deu para cuidar, dormi um sono profundo e reparador.
É justamente nessas ocasiões, amigos e irmãos, que um questionamento poderoso e perturbador principia a martelar nossa mente como se fora um martelete rompedor de rochas graníticas, sem dar sossego nem descanso: Por quê isso veio a acontecer? Por quê essa pessoa e não aquela?
Apesar da lógica da pergunta e de sua conseqüente inevitabilidade após desastres para nós inexplicáveis, a procura de sua resposta nos lança em perigoso e quase sempre fatal labirinto em que as ciências humanas se perdem na sua vã tentativa de compreender e explicar a mente divina a partir da perspectiva do ser humano e de sua experiência tangível.
Na sua loucura presunçosa o homem questiona Deus sem acanhamento ou temor. Jó incorreu nesse erro elementar e quando o Senhor começa a responde-lo no capítulo 38 de seu livro, já na primeira pergunta, Jó capitulou fragorosamente derrotado: “Onde estavas tu, pergunta o Senhor, enquanto eu criava o Universo e os anjos se alegravam diante do meu extraordinário poder?”
Sim, esta pergunta ribomba qual artefato poderoso nos nossos ouvidos até o dia de hoje. De fato, que sabemos da vida? Que sabemos do futuro? Só conseguimos enxergar e com muita dificuldade até um palmo além dos nossos narizes e, mesmo assim, ousamos questionar o Eterno, o Ser sem princípio nem fim? Não seria muito melhor o silêncio respeitoso e a obediência resultante do seu temor?
Essa foi a experiência de Abraão. Amou profundamente Isaque, o filho de sua velhice, e quando Deus exigiu que o imolasse em sacrifício cruento, duvido muito que esses questionamentos não povoassem sua mente de pai amoroso. Mas em nenhum momento verbalizou suas dores, suas dúvidas, suas possíveis amarguras, mas simplesmente avançou pela fé. Afinal, havia uma promessa de quem lhe pedia o sacrifício, de que aquele filho seria o seu herdeiro, e isso lhe foi o bastante para responder a inquietante pergunta do menino que seguia junto a ele para o local do sacrifício: “Pai, aqui temos a lenha e o fogo. Mas onde está o cordeiro a ser imolado? Sua resposta ecoa pelos séculos como um libelo acusatório para nossa tantas vezes fé infantil: “Deus proverá, meu filho”.
Sim, Deus proverá! O Senhor da vida, o Deus das imorredouras e infalíveis promessas jamais falhará. Nunca é demais a lembrança de que servimos ao mesmo Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor, o Deus Todo poderoso que levanta a quem quer e que destrói seus inimigos com o simples sopro de sua boca santa é o mesmo que levantou nosso querido Bispo Robinson Cavalcanti para conduzir-nos com mão firme em meio ao mar sempre bravio das relações inter-pessoais, ao sempre tempestuoso oceano das heresias, ao sempre complicado ambiente eclesial.
Foi humano na mais contundente expressão gramatical. Riu e chorou; teve altos e baixos; acertou e errou. Mas jamais se afastou da sã doutrina. Jamais fez concessões à ortodoxia, à piedade, à honestidade. Jamais fugiu do seu dom de profeta. E como tal honrou a memória de Zacarias, filho de Baraquias, que o Senhor Jesus denunciou ter sido assassinado dentro do próprio Templo. Ou a memória do profeta João Batista, que foi assassinado por não ter medo de abrir a boca e denunciar os poderosos do seu tempo. Quem, por acaso, não é aqui capaz de apontar inúmeros exemplos de denúncias de poderosos, sejam eles políticos ou religiosos, feitos por D. Robinson?
É claro que esta circunstância o fazia extremamente vulnerável e ele não poderia levar a bom termo essa hercúlea tarefa sozinho. Sempre houve, há e haverá sinistros seres de malignidade tentando abortar o trabalho de um homem de Deus. Por isso o Espírito Santo levantou-lhe uma extraordinária ajudadora. Refiro-me a Miriam, sua dedicada esposa. A mulher de um clérigo tanto pode ser uma bênção como uma maldição na sua vida de reverendo. Miriam foi o maior presente que um pastor poderia receber das mãos de Deus. Tornou-se entre nós proverbial o tempo gasto por ela diariamente em oração tanto a sós, como com sua parceira de oração, quanto em reuniões sob sua liderança. E assim ela foi um poderoso suporte espiritual na vida do seu marido. Discreta, amável, acolhedora e sábia conselheira foi fiel até a morte e já recebeu do Senhor Jesus a coroa da vida prometida no livro do Apocalipse. Quanta falta ela nos fará e só nos resta suplicar encarecidamente ao Espírito de Deus que nos dê uma nova Miriam.
D. Robinson amava muito sua esposa. Mas nada se compara a seu amor avassalador pelo Evangelho. Por ter sido seu amigo por longos 52 anos, conheci como poucos esse amor entranhado pelo serviço de Cristo. Por amor a ele renunciou a uma confortável aposentadoria para não fazer nada, além de escrever e dar conferências nos quatro cantos do mundo, o que era o seu hoby. Pagava do seu próprio bolso para ser bispo, pois a minguada probenda recebida de uma pobre diocese nunca cobria as despesas no fim do mês. Trabalhava por pura paixão ao seu Senhor. E trabalhava mesmo. A sua diocese do tamanho do nordeste, estendeu-se até o país inteiro e chegou até uma área da América do Norte. Não há uma única paróquia, missão ou ponto missionário que não tenha recebido sua visita. Enquanto isso, produzia furiosamente textos diocesanos e colaborações para publicações e revistas de peso nacional, como a Ultimato, de quem era o mais antigo colaborador. E no tempo restante, escrevia livros para a Igreja Cristã. Anos e anos nessa faina estressante cobraram um preço alto na sua saúde física. Muitas vezes foi obrigado pelo médico a parar, e então ele se refugiava na sua querida Paripueira. E enquanto descansava escrevia, escrevia, escrevia… Daí não ser difícil compreender porque amava tanto esta diocese. Na sua luta renhida para manter-se fiel ao anglicanismo histórico, ortodoxo e missionário, entristecia-se profundamente com o vacilante apoio internacional. Por fim, partiu para a eternidade, para seu indescritível encontro com seu Senhor, sem ter visto a sua obra consolidada de uma diocese que fosse um bastião contra o legalismo, o liberalismo e outros ismos heréticos.
E agora? Agora estamos nas mãos de Deus. O Bispo sempre disse que esta diocese era o que era com ele ou sem ele. Mostraremos ao mundo agora o quanto isso era verdade. Estamos mais unidos que nunca em torno do sonho dele de construir uma diocese que honre o legado dos nossos primeiros bispos Kinsolving e Morris. O que nós pregamos e cremos, é o que eles pregavam e criam; e o que eles criam é aquilo que os apóstolos também criam e pregavam.
Pregar o Evangelho para qualquer seguidor de Jesus Cristo torna-se um desejo ardente porquê o Espírito de Deus nos trás uma mensagem absolutamente singular onde os contrastes são avassaladores. Por exemplo, choramos as mortes de D. Robinson e Miriam, mas são tantas e tão maravilhosas as promessas do Evangelho para aquele que parte seguro na mão de Cristo que, na verdade, são eles próprios os bem-aventurados daqui. Como é maravilhoso ouvir o conforto do Senhor nos dizendo hoje como outrora: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.” (Jo. 11:25) “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim, tem a vida eterna.” (Jo. 6:47) “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão.” (Jo. 5:25) Esta a razão porquê Paulo Apóstolo num arroubo maravilhoso cheio de inspiração, gritou a plenos pulmões: “Tragada foi a morte pela vitória!” (1Co. 15:54b) Sim, a ressurreição de Jesus Cristo é o selo de garantia de que nós vamos ser ressuscitados por Ele para nunca mais morrer. A palavra morte está definitivamente excluída do dicionário celestial e nós vamos nos reunir novamente com D. Robinson e Miriam num banquete festivo com a presença do próprio Jesus Cristo. E a novidade mais excelente, meu caro ouvinte, é que você também é convidado a participar dessa festa onde o dono dela faz questão de não excluir ninguém. No ingresso disponível para todos está escrito a exigência de participação: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” (At. 16:21) Adquira já e de graça este ingresso e participe conosco dessa festa de reencontro com o bispo, Miriam e Jesus Cristo.
Mas que dizer de Eduardo, este filho causador de tamanho desatino? Confesso, irmãos e amigos, que meu coração sangrando não teria nenhuma palavra para ele. Mas nessa manhã minha mulher segredou-me ter visto num sonho nesta madrugada o bispo e Miriam rindo felizes pela possibilidade de haver nele uma verdadeira conversão ao Senhor Jesus Cristo.
Por fim, não compreendemos o porquê dessa tragédia. Mas entendemos muito bem o que o Senhor Jesus está a nos dizer: “Mais tarde vocês entenderão.” Eu próprio estou ansioso para ver como o Senhor vai nos abençoar a partir desse fato tão triste. Sei muito bem que será assim porquê está escrito que “…todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm. 8:28)
Vou agora pedir permissão para encerrar estas breves palavras esquecendo por um pouco que estamos na Quaresma a fim de que entoemos o grito de guerra de que tanto nosso bispo gostava.
Portanto, vamos na paz de Cristo. Sejamos fortes e corajosos no testemunho do Evangelho entre todas as pessoas. E sirvamos ao Senhor com alegria! No poder do Espírito Santo. Aleluia!
Sermão proferido no Oficio Fúnebre de D. Robinson e Mirian Cavalcanti pelo 
Rev. Luiz Souza de França, Pároco da Paróquia Anglicana do Consolador
Povoado de Pousada de Conde – Município de Conde – PB.
Paróquia Emanuel, 29 de fevereiro de 2012.